Carla estava cansada da competitividade na empresa em que atuava e decidiu que estava na hora de se especializar. Dentro dela havia uma imensa vontade de fazer mestrado para, quem sabe, virar professora universitária. Joaquim sempre gostou de fazer pesquisa. Já tinha o título de mestre e, depois de dez anos de carreira desenvolvendo materiais de treinamento, decidiu investir num doutorado.
Essas duas histórias ilustram alguns dos muitos casos de profissionais que buscam encontrar na vida acadêmica o propósito de suas carreiras ou a solução para uma insatisfação em seu emprego atual. Proponho, porém, cinco alertas para que você não se decepcione ao descobrir que a vida acadêmica não é exatamente um mar de rosas – afinal, nenhuma carreira é só flores, não é mesmo?
1. Busque temas de seu interesse em bases de pesquisas. Há quem goste de um assunto e queria pesquisar sobre ele, mas sequer investiga se tal tema está na agenda de investigações da área ou se já foi amplamente estudado academicamente, por exemplo. É preciso definir um foco inovador que contribua para as discussões teóricas ou metodológicas ou que enriqueça pesquisas em andamento. Para isso, use bases confiáveis, como Scielo e demais plataformas de publicações acadêmicas.
2. Investigue a instituição onde pretende atuar: navegue pelo site da faculdade, veja os temas com que trabalham os professores, as revistas acadêmicas publicadas pelos grupos de pesquisa de lá e busque a qualificação do programa de pós-graduação no sistema da CAPES. Não se restrinja apenas ao peso do nome de uma universidade, porque há inúmeras particularidades que podem comprometer sua satisfação ao longo da formação – e até mesmo a aceitação de seu trabalho. Estar no lugar adequado, tanto na vida empresarial como na acadêmica, faz toda a diferença.
3. Converse com possíveis orientadores. Há pesquisadores renomados em todas as áreas, aqueles que mais publicam, que mais vão a congressos etc, mas ser orientador é outra história. É preciso que haja convergência de interesses por temas de pesquisa. É altamente recomendável avaliar o estilo do orientador e do orientado, para que a relação seja amistosa ao longo de todo o processo de obtenção do título. Não se deixe levar tão somente por um nome de peso, mas sim pela trajetória do orientador. Marque uma conversa para conhecê-lo e para você se apresentar a ele. A plataforma Lattes pode ser um começo para saber que tipos de trabalho ele orienta, que textos publica e a que eventos vai, por exemplo.
4. Faça aulas como ouvinte, se necessário. Para conhecer melhor o provável orientador e o ambiente acadêmico, vale a pena frequentar alguma disciplina como aluno ouvinte, que ainda não tem compromisso de realizar pesquisa e obter titulação. Nesse período, você vai entender os tipos de leituras, ficar ciente das exigências feitas pelo professor, conhecer outros colegas e, então, avaliar se a carreira acadêmica condiz com suas expectativas, seu propósito e seu objetivo.
5. Entenda a rotina e as exigências da vida acadêmica: por haver certa flexibilidade de horários, há quem considere a carreira acadêmica mais “leve” e menos desgastante que a carreira empresarial, na qual horários de entrada e saída ainda são mais rígidos. Engana-se, porém, quem pensa que há menos trabalho. Fins de semana podem ser repletos de textos para ler ou redigir e as madrugadas por vezes serão suas aliadas para o cumprimento de prazos. Além disso, cada vez mais cobram-se resultados quantitativos, como número de publicações por ano em revistas reconhecidas, por exemplo. Em meio a essa exigência, existem diversas atividades na rotina acadêmica que tomam tempo e vão comprometendo, pouco a pouco, sua agenda.
Viu quantos pontos você precisa avaliar antes de dar esse passo tão importante na sua carreira? Então reflita bastante sobre esses pontos e tome a melhor decisão com calma e assertividade. Boa sorte!