Mariana Tavares Barros e Natália Lima, ambas com 25 anos, trabalham em hospitais particulares de São Paulo. A primeira atua na Terapia Intensiva (UTI), tratando pacientes em estado grave; a outra cuida de pessoas em tratamento contra o câncer. A formação é a mesma: a enfermagem.
Há mais coisas em comum. A compaixão ao ser humano foi um dos principais motivadores para que elas escolhessem a profissão. “Aquele poder de cuidar das pessoas, fazer por elas aquilo que no momento ela não pode realizar por si só, é uma sensação única, e o agradecimento dela, nem que seja por um olhar é reconfortante”, explica Mariana Barros.
Os enfermeiros estão envolvidos diretamente com a prevenção de doenças e a recuperação da saúde, tanto na área clínica, quanto na pesquisa, na educação ou na gestão hospitalar. Engana-se quem acha que eles trabalham apenas em hospitais. Clínicas, ambulatórios, empresas, escolas, faculdades, ONG’s e programas governamentais de saúde são opções para quem quer ser enfermeiro.
Aquele poder de cuidar das pessoas, fazer por elas aquilo que no momento ela não pode realizar por si só, é uma sensação única, e o agradecimento dela, nem que seja por um olhar é reconfortante”, explica Mariana Barros.”
O graduado também pode dar aulas em cursos técnicos e preparatórios. Este é um dos desejos de Mariana, mas com apenas três anos de profissão ainda é cedo, ela diz. “Tenho muito o que aprender para poder compartilhar”.
Aprendizado deve ser mesmo algo constante nesta atividade. São os enfermeiros que coletam dados e triam os pacientes, priorizando o atendimento, além de realizarem as medicações e os procedimentos necessários antes e depois da consulta médica e em situações de urgência. São ações importantes para a manutenção da saúde, por isso, é preciso estar atualizado e conhecer bem as rotinas e os tratamentos.
“Ser enfermeiro requer conhecimento e tomadas de decisões. O que mais temo, é ter uma conduta inadequada e gerar riscos ou algum dano para os que estão a minha volta”, confessa Natália Lima.
A responsabilidade é mesmo grande. Justamente por isso, o estágio em diversos setores é obrigatório para a graduação, que dura em média quatro anos. “O que foge da ‘comodidade’ de ir à faculdade para ficar assistindo as aulas, mas ir colocar as mãos na massa, aprender na prática, e sentir como é a rotina de um enfermeiro e do fluxo de trabalho”, ela completa.
O mercado
A conciliação entre estudos, estágios e outras atividades do dia a dia é a parte mais complicada para quem está cursando enfermagem. É difícil ingressar no mercado de trabalho e os estágios obrigatórios não contam como experiência, explicam as enfermeiras.
No início da carreira, colocar o aprendizado teórico em prática e utilizar procedimentos que foram pouco treinados na faculdade também são apontados como uma dificuldade por Mariana. O Conselho Regional de Enfermagem (Coren) está atento a situações como esta.
Professor nesta área há 29 anos, Donato Medeiros, atual secretário do Coren – SP, reafirma a importância dos estágios, mas pontua a necessidade de fiscalização e controle para garantir a qualidade da formação.
Ser enfermeiro requer conhecimento e tomadas de decisões. O que mais temo, é ter uma conduta inadequada e gerar riscos ou algum dano para os que estão a minha volta”, confessa Natália Lima.”
Segundo Medeiros, esta responsabilidade é divida: enquanto o Conselho fiscaliza os estágios supervisionados por enfermeiros nas instituições de saúde, o Ministério da Educação é responsável por regulamentar o processo de graduação. Para ele, com a democratização do acesso às faculdades, o critério de controle se perdeu. Por isso, um ensino qualificado é uma das lutas do Conselho para melhoria da classe.
Sucesso profissional
É preciso, no entanto, mais do que uma boa formação teórica para chegar ao sucesso profissional. De assistente de enfermagem até enfermeiro-chefe há muito trabalho. “Há uma linha hierárquica a ser seguida nesta área pelos que almejam e se esforçam”, enfatiza a enfermeira oncologista Natália Lima.
Para o professor Donato Medeiros, um bom profissional tem que ter o “CHA da competência” (conhecimento, habilidade e atitude), e consciência de seu compromisso com a profissão que abraçou e com os limites de seu conhecimento. “O profissional precisa analisar tudo isso. Ele deve estar em condições seguras para desenvolver seu trabalho”, argumenta.
Além de tudo, é preciso um extremo controle emocional neste ramo. “Realizamos cuidados com o paciente em situações extremas, auxiliamos em procedimento complexos a beira leito. E vamos desde a uma higiene no leito até uma ressuscitação cardiopulmonar”, expõe Mariana Barros. Por isso, a maioria das faculdades oferecem psicologia e filosofia em suas grades curriculares.
O Coren também busca uma jornada de trabalho reduzida para os enfermeiros, o que evitaria erros de atuação causados pelo estresse e cansaço. “A jornada deve estar condizente com a sobrecarga emocional e estressante que ele [o profissional] tem que suportar diariamente”, explica o secretário. Um enfermeiro em início de carreira ganha em média R$ 2 mil. A jornada regulamentada é de 40 horas semanais, mas há quem faça o dobro, trabalhando em dois locais por uma melhor remuneração.
Conheça algumas áreas de atuação do profissional da enfermagem
Assistencial – é a área de atuação mais comum. Na enfermagem assistencial incluem-se os profissionais que atuam em hospitais, clínicas e no atendimento home care;
Acadêmica – é a área da enfermagem voltada ao ensino. Muitos enfermeiros atuam ministrando aulas em cursos técnicos, de graduação e especialização em paralelo a outras atividades profissionais, principalmente na área assistencial.
Pesquisa – Estes enfermeiros trabalham em laboratórios, desenvolvendo pesquisas de avanço para área da saúde.
Gestão e qualidade – Quem gosta mais da área gerencial pode se especializar na gestão e qualidade da enfermagem. Estes profissionais atuam na administração das instituições, coordenação de equipes e nas auditorias dos serviços assistenciais de saúde;
Política – A área política está voltada para o trabalho jurídico e sindical da enfermagem. Estes profissionais se organizam e articulam para modificar ou gerar leis, deliberações e portarias que estabeleçam melhorias para a classe.