Na última década o Brasil passou por um período de crescimento que impulsionou a economia, acelerou o consumo e criou uma atmosfera de otimismo. Entre os mercados beneficiados com estas transformações está o mercado imobiliário. Segundo dados do índice Fip-Zap divulgados pelo jornal Financial Times em fevereiro último, desde 2008 os valores dos imóveis registraram um aumento médio de 198% na cidade de São Paulo e 247% na cidade do Rio de Janeiro. Dados deste tipo geram o temor de que estejamos, na verdade, vivendo uma bolha imobiliária no país, como a ocorrida nos EUA em 2008/2009.
Os rumores da existência de uma bolha imobiliária por aqui ainda não afetaram diretamente os mercados, mas o assunto já chama a atenção de especialistas dentro e fora do país. Para a grande maioria deles as chances de o fenômeno acontecer no Brasil são pequenas, sobretudo porque o sistema bancário é muito conservador por aqui. Nos EUA, era bem diferente: os bancos venderam a outros bancos financiamentos já fechados, garantindo o seu faturamento independente da capacidade real de pagamento daqueles que tinham tomado seus empréstimos. Esta aparente facilitação do acesso ao crédito levou a uma reação em cadeia que gerou uma crise que respingou em mercados ao redor do mundo (o chamado “estouro da bolha”).
Já os especialistas do Financial Times enxergam os números de crescimento de preço dos imóveis brasileiros com cautela. Além da estabilidade econômica, fatores como o acirramento da concorrência entre bancos (facilitando o acesso ao crédito) e taxas de juros relativamente mais baixas são apontados como influenciadores da valorização excessiva dos imóveis. Para estes analistas, ainda que a economia se mantenha estável, seria impossível manter preços tão altos. Por isso, eles preveem que dentro de alguns anos comece a ocorrer uma queda acelerada nos valores dos imóveis, como forma de compensar os disparates cometidos agora.
A maior preocupação é de que esta queda brusca de preços, mesmo que não atinja as dimensões de uma bolha, possa colaborar para a deterioração da economia, que já dá sinais claros de falta de vigor. O fato é que tudo o que se refere à questão da suposta bolha imobiliária no Brasil ainda tem um tom bastante nebuloso. Será necessário aguardar mais alguns anos, acompanhando os humores do mercado, para perceber se esta bolha existe mesmo e, ainda, quais regulações poderão evitar que ela estoure, atrapalhando o desenvolvimento do país.