A desigualdade salarial entre homens e mulheres é um assunto já bastante conhecido e questionado no mercado de trabalho. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em abril deste ano, em 2017 o Brasil registrou uma média salarial de R$ 1.868 para as mulheres, enquanto os homens ganharam o salário médio de R$ 2.410.
Essa discrepância entre gêneros levanta uma série de debates e é alvo de diversos estudos que tentam explicar o fenômeno. Enquanto algumas pesquisas apontam que as mulheres tendem a escolher áreas que pagam menos, outras apontam que esse é um reflexo de uma sociedade machista que acredita que as mulheres não apresentam a mesma capacidade e produtividade que os homens.
Agora, porém, estudos recentes apontam para outra possível explicação: a maternidade. De acordo com pesquisadores da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, há uma queda brusca na renda das mulheres após o nascimento de seu primeiro filho — enquanto que homens na mesma situação não registram qualquer impacto em seu salário. Essa situação teria um efeito cumulativo e, ao longo da carreira, é estimado que as mulheres recebam 20% a menos que os homens.
Outra análise, publicada pelo Census Bureau (agência governamental encarregada pelo cesno nos Estados Unidos), revelou que as mulheres que têm o primeiro filho entre os 25 e 35 anos não conseguem recuperar a disparidade salarial em relação ao marido. Por outro lado, quem se tornou mãe antes dos 25 anos ou após os 35 consegue minimizar essa diferença. De acordo com os especialistas, isso acontece porque é justamente entre os 25 e 35 anos que a maioria das mulheres têm filhos, além de ser o principal período para consolidação da carreira.
Os dados do Census Bureau apontam que a desigualdade salarial entre homens e mulheres tem diminuído ao longo das últimas quatro décadas, já que as mulheres passaram a se dedicar mais à formação e carreira, mas ainda continua existindo de maneira significativa. Quem se torna mãe mais tarde tem carreiras diferentes das mulheres que tiveram filhos mais cedo, e as que deram à luz mais perto dos 40 anos geralmente possuem uma formação melhor e empregos com maiores salários.
Como a maternidade afeta a carreira?
De modo geral, a principal razão de a maternidade afetar tanto a carreira está no tempo: a criação dos filhos demanda muito, e as mães tendem a se dedicar mais aos cuidados com a criança — sobretudo nos anos anteriores à pré-escola. Essa é uma situação que reflete diretamente na carreira, especialmente naquelas que ainda estão em processo de construção.
Quando uma profissional se torna mãe, é natural que haja uma maior probabilidade de que ela tenha que reduzir suas horas de trabalho, evitar horas extras, recuse viajar a trabalho e até mesmo largue o emprego para cuidar da família que está sendo formada. Além disso, o estudo identificou que as disparidades salariais aumentam com cada criança adicional, fazendo com que mulheres com mais de um filho tenham o salário ainda mais baixo.
Ainda de acordo com os pesquisadores do Census Bureau, programas de auxílio que visam a reintrodução das mães no mercado de trabalho podem minimizar essa desigualdade salarial de gênero, bem como políticas organizacionais que oferecem flexibilidade de trabalho, horários negociáveis ou creches conveniadas. Dessa forma, seria possível começar a reverter esses números e fazer com que as mulheres tenham uma representação maior na economia.