Quantas vezes já nos vimos pressionados a praticar atos antiéticos no trabalho? Mentir dizendo que o chefe está em reunião, superfaturar algum projeto… Certamente você já passou por essa situação ou pelo menos conhece alguém que tenha alguma história dessas para contar. Inclusive uma pesquisa da Ethic Resource Center, de 2013, revelou que 10% dos trabalhadores já relataram que se sentiram pressionados a praticar atos antiéticos.
Há quem faça isso sem peso na consciência, mas quem não é adepto a esse tipo de prática pode se blindar contra a falta de ética no ambiente de trabalho usando amuletos, como citações ou imagens de ícones religiosos. Pelo menos de acordo com uma pesquisa, essa prática funciona.
Maryam Kouchaki, da Kellogg School of Management, da Universidade de Northwestern, e Sreedhari Desai, da Kenan-Flagler Business School, da Universidade da Carolina do Norte, acreditam que esses objetos estimulam a consciência moral nas pessoas ao redor, dando a ideia de que o detentor dos amuletos possui alto caráter moral.
Em entrevista ao site da Kellogg School of Management, Maryam Kouchaki comenta: “A ideia é que ser autenticamente moral e estar orgulhoso disso pode ter consequências positivas.”
Tirando a prova
Para fazer a comprovação, as duas profissionais desenvolveram seis pesquisas, que foram publicadas na Academy of Management Journal, sob o título “Símbolos Morais: um colar de alho contra pedidos Indevidos”. “Queríamos descobrir se existe uma maneira de alguém dizer não de uma maneira sutil, mas eficaz para evitar tais situações difíceis”, explicou Maryam.
Em um dos estudos do estudo, 148 estudantes universitários foram convidados e cada um foi informado que iria supervisionar outros dois companheiros de equipe, “Pat” e “Sam.” (pessoas fictícias). Depois todos receberam os e-mails usados pelos dois para se apresentarem. Somente para alguns participantes o e-mail introdutório de Pat continha a citação “Melhor falhar com honra do que ter sucesso por meio de fraude”. Já o e-mail de Sam não continha nenhuma citação.
Os 148 participantes teriam que decidir se pediriam para um dos subordinados enviar um e-mail desonesto, o que resultaria em uma perda menor para o resultado final da atividade. Sem a mensagem, a perda seria de US$ 18, já com a mensagem desonesta a perda seria de apenas US $ 3. Em ambos os casos, o escolhido para enviar a mensagem não saberia se esta era enganosa ou não.
Símbolos morais podem ser intimidadores?
Pelos resultados, 64% dos participantes que não foram expostos à citação ética optaram por enviar a mensagem enganosa, enquanto apenas 46% das pessoas que viram a cotação ética assim o fez. Além disso, aqueles que viram a cotação ética e ainda assim decidiram enviar a mensagem enganosa, eram mais propensos a escolher Sam como o mensageiro.
Maryam Kouchaki pensa que, na opinião dos participantes da pesquisa, é intrinsecamente imoral contaminar objetos ou seres percebidos como puro. “Os participantes do estudo podem ter evitado pedir ao subordinado que perceberam como moral para completar uma tarefa imoral, pois isso teria sido duplamente imoral”. E completa: “Vendo um símbolo moral, consciente ou inconscientemente aumenta a consciência moral no visualizador.”
As pesquisadoras também fizeram uma pesquisa em empresas da Índia, país onde é comum o uso de símbolos religiosos no ambiente de trabalho, e concluíram que os profissionais que possuíam símbolos desse tipo recebiam um número menor de pedidos antiéticos.
Kouchaki lembrou que a pesquisa se concentrou principalmente em comportamentos não éticos relacionados a dinheiro. Seria necessário mais trabalho para determinar se símbolos morais podem proteger contra outros tipos de corrupção, como a discriminação racial ou assédio sexual. “Queremos que as pessoas sintam que elas têm controle sobre suas situações, e que há coisas que podem fazer para evitar comportamentos questionáveis dos outros.”