É bastante comum as empresas criarem competições internas ou entre filiais para potencializar os resultados e tirar um pouco os colaboradores do comodismo. E quem vence a batalha geralmente é presenteado com bônus financeiro, uma viagem curta, dias de folga, entre outros benefícios.
Entretanto, é importante lembrar que nem sempre essas ações ajudam a motivar os funcionários. Dependendo da forma como as competições são anunciadas e conduzidas, podem causar problemas sérios, como comportamentos antiéticos. Nesse caso, como colher bons frutos dessas práticas?
Esta resposta foi tema de um estudo comandado pelos pesquisadores Anna Steinhage, do Banco Mundial, Dan Cable, da London Business School e Duncan Wardley, da PwC. Eles defendem que a distinção entre competições que aguçam a criatividade e comportamentos antiéticos está na forma como os funcionários se sentem diante desse processo.
Ansiedade ou emoção?
O comportamento dos funcionários durante uma competição vai depender justamente de qual desses dois sentimentos é despertado no decorrer do processo. “Ansiedade e emoção são respostas emocionais muito diferentes para uma competição. E essas emoções fazem as pessoas se comportarem de formas diferentes”, dizem os pesquisadores.
Anna, Dan e Ducan explicam que algumas competições provocam medo e ansiedade, porque concentram os funcionários na ameaça de serem demitidos, de perder renda ou de serem humilhados publicamente. Nesse caso, os funcionários são mais antiéticos e menos propensos a recorrer a comportamentos criativos para a solução de problemas.
Já outras competições focam os funcionários na possibilidade de ganhar um bônus cobiçado ou reconhecimento público, o que cria excitação, mas fazem com que eles sintam expectativa e emoção. Em situações como essa, as pessoas tendem a ser mais éticas e a usar a criatividade para resolver problemas.
Pesquisadores conduziram os estudos com base em análises comportamentais
No primeiro estudo, 204 funcionários foram questionados sobre quais sentimentos as premiações oferecidas por suas empresas despertavam e quais comportamentos eles usavam para se distinguirem de outros empregados. Os resultados mostraram que quando as políticas despertavam entusiasmo, os funcionários usavam a criatividade. Quando geravam ansiedade eles geralmente recorriam à sabotagem.
Em outro estudo, 457 gerentes de um banco de varejo internacional foram convidados a participar de uma competição. Para alguns deles foram destacadas consequências positivas (um resultado superior equivale a ganhar um bônus substancial no mês) e para outros, resultados negativos (se não conseguir um resultado superior, perderá um bônus no mês). Ambas as informações dizem a mesma coisa, mas uma enfatiza o ganho e a outra a perda de algo.
Segundo os pesquisadores, o foco na perda de um bônus tornou os gerentes mais ansiosos e propensos a usar métodos antiéticos, enquanto os que se concentraram em ganhar um bônus ficaram mais animados e criativos. “Estes resultados sugerem que a forma como as pessoas se sentem em uma competição desempenha um papel crucial na forma como tentam ganhar. As consequências negativas de ficar para trás podem desencadear a ansiedade e levar as pessoas a recorrerem a fraudes”, comentaram.
Anna, Dan e Ducan ressaltaram também que a pesquisa abre portas para a reflexão, uma vez que alguns líderes pensam que é motivador ridicularizar publicamente os perdedores dos torneios internos. Sendo assim, a forma como os líderes se comunicam sobre a concorrência pode fazer com que os funcionários experimentem ansiedade ou excitação em relação à competição.
“Os líderes precisam investir energia gerando entusiasmo, destacando as possíveis consequências positivas da competição. Se querem assegurar que a competição desencadeie a criatividade e não o comportamento antiético, devem resistir à tentação de conduzir através do medo”, finalizam.