As novas tecnologias, o grande volume e fluxo de informações e a escassez de tempo têm impactado de forma contundente os discursos, nas mais diferentes esferas de atuação. Seja no âmbito político, empresarial ou acadêmico, discursos que duravam 90 minutos passaram a durar 60, 20 e até dois minutos. Eis então um dos grandes desafios para se obter uma comunicação eficaz: dizer muito em pouco tempo. Quem insistir em mobilizar as pessoas por longos períodos para discursar está fadado ao insucesso na comunicação.
Claro que essa tendência, como toda novidade, nem sempre é vista como positiva. Há quem acredite que os discursos de curta duração, cada vez mais valorizados e praticados, não são profundos o bastante. Mas basta analisar longos discursos para verificar que há falta de foco e inúmeras informações irrelevantes tanto para o contexto quanto para a plateia.
Em setembro de 2013, por exemplo, Ted Cruz, senador republicano dos Estados Unidos, proferiu um dos discursos mais longos da história ao se posicionar sobre o Obamacare, com duração de 21 horas e 19 minutos. Ted contou histórias infantis, detalhes de sua vida particular e comparou o governo democrata com a opressão vivida pelos personagens de Star Wars, com direito à imitação de Darth Vader.
Em tempos de internet, o vídeo ganhou projeção por seu caráter pitoresco e cômico, porém, a pergunta é: esses elementos contribuíram para a discussão sobre o sistema de saúde norte-americano? Se o senador Ted tivesse se inspirado no “modelo Ted Talks”, poderia ter alcançado mais projeção e contribuído efetivamente para o debate.
O “modelo Ted Talks” refere-se à apresentação de ideias em até 18 minutos de duração, tempo considerado ideal para os espectadores entenderem conceitos das mais diferentes áreas e temas (inovação, economia, geopolítica, psicologia, filosofia, literatura, comportamento etc.), refletirem sobre o momento em que vivemos e sobre o que (potencialmente) está por vir.
O TED, seminário iniciado em 1984 e que, desde 2006, disponibiliza suas palestras na internet, tem como principal intuito disseminar conhecimento com credibilidade por meio de discursos concisos, claros, relevantes e impactantes. Esse “modelo Ted Talks” de apresentação de ideias e disseminação de conhecimento é um sucesso de público (estima-se que há um milhão e meio de visualizações diárias das palestras TED.com) e vem influenciando tanto os discursos de profissionais de diferentes áreas como também os estudos sobre técnicas de apresentação em público.
O especialista Carmine Gallo, por exemplo, lançou recentemente o livro “TED – Os segredos de comunicação das conferências mais carismáticas do mundo”, em que o autor expõe técnicas úteis para profissionais em geral. Como alegar, então, que não é possível comunicar com consistência, impacto e relevância em apenas 18 minutos?
Mas, a depender do contexto, até mesmo os aparentemente escassos 18 minutos podem ser considerados excessivos. Especialmente no meio empresarial, tem ganhado força o elevator pitch (ou elevator speech), cuja duração é de um a cinco minutos. A estrutura varia de acordo com a situação em que será usado: se for uma apresentação pessoal, recomendam-se os tópicos quem você é, o que faz e o que pode oferecer; se for uma apresentação de uma startup, de um negócio ou de uma ideia, recomendam-se os itens mercado-alvo e necessidade atendida, como o produto/serviço atenderá esta necessidade, sua inovação/diferenciação, potencial do negócio/ da ideia. Incluir esses tópicos em um tempo tão diminuto é altamente desafiador e, se bem executado, muito eficiente para o marketing pessoal e para os negócios.
O que se percebe, portanto, é a considerável redução do tempo disponível para discursar, o que não implica, necessariamente, simplificação e falta de profundidade. Ao contrário, os profissionais precisam dizer muito em poucas palavras, ser objetivo e demonstrar todo seu conhecimento e sua experiência em curto espaço de tempo. Quem perde o timing da comunicação com longos discursos acaba perdendo a atenção da plateia e, em muitos casos, ótimas oportunidades.