Gostamos de dizer que no nosso tempo é que era bom. Que a gente soltava pipa, brincava na rua e que, se a gente se machucava, bastava passar merthiolate que a ferida passava. Ninguém fazia um escândalo por causa disso.
Gostamos de dizer que esta geração é mais mimada e que fazer sua gestão é manter essa paparicação que nós nunca tivemos. Que nós tínhamos que nos adaptar ao estilo da empresa e não ao contrário. A empresa não se adaptava a nós! Se nós não déssemos duro, seríamos demitidos. Tínhamos que trabalhar até tarde, compreender bem as instruções que nos eram repassadas, receber as broncas quando merecidas, e até quando descabidas, de cabeça baixa!
Então essa garotada deve ser mesmo mantida sob uma gestão à moda antiga, da mesma forma que fomos educados, porque este momento de juventude vai passar e eles vão aprender que a vida não é tão fácil.
Será mesmo?
O mundo atual não é mais igual ao mundo em que vivemos. Não podemos dizer que é tudo como era na nossa época. Em primeiro lugar essa geração tem mais acesso à informação do que tivemos e, por isso, é mais consciente de suas possibilidades. Também é mais reivindicadora, porque a sociedade mudou e já não aceita o tratamento desrespeitoso que aceitávamos.
Os pais já não são mais aqueles que detêm o conhecimento. E não é só uma questão de tecnologia. Raros são os pais que sabem ajudar seus filhos na hora da escolha da carreira profissional, por exemplo. Não sabemos mais que cursos universitários existem ou os que serão uma boa opção para o futuro. Devemos recomendar o curso de Direito da Internet? Ou o de Midialogia? Talvez o de Ciências do Consumo? Ou será que o de Agricultura Orgânica será o caminho para a felicidade dos nossos filhos?
O fato é que o futuro nos atropela e já não sabemos ajudá-los. Não existe mais a “cadeira do papai”, que havia no nosso tempo, que conferia ao “pai” da casa uma autoridade inquestionável. Aliás, são eles que nos ensinam. Questionam cada ordem que damos e cada parâmetro que tentamos estabelecer:
“Você tem que chegar em casa até a meia-noite!”, definimos.
“Por que?”, nos perguntam eles.
E desde pequeninos nos orgulhamos que eles sabem mexer nos aparelhos novos e questionam tudo! Mas quando entram nas organizações não gostamos da forma com que questionam. Quando eram nossos filhos e sobrinhos, isso era lindo. Agora, quando são nossos funcionários, deixou de ser!
E esta geração já nasceu sabendo. Aprende por um método que nós não aprendemos: a tentativa e erro. Na nossa época, líamos manuais. Agora eles não leem nada. Aprendem tentando. E, quando entram na empresa, queremos que eles leiam os manuais de conduta e procedimento…
Eles nos olham como se estivéssemos falando de pergaminhos, ou de “manuais para ligar uma geladeira”: coisas óbvias. A organização lhes parece um dinossauro da era paleolítica e nós estranhamos isso? Mas nós mesmos reclamamos da morosidade organizacional quando nos referimos à mudança!
A própria sociedade em que vivemos, movida pela necessidade de consumo, nos diz: “consuma agora! Viva o ‘hoje’”. Não pense no amanhã. Em outras palavras, a sociedade está dizendo: “gaste o seu dinheiro todo hoje”. E os jovens vivem voltados para o agora, para um consumo desenfreado, para o último modelo de celular ou da nova marca que passou a ser moda. Mas quem mudou os valores dessa sociedade para que mais dinheiro fosse gasto imediatamente num consumismo desenfreado? Quando os jovens pedem demissão para viver “o hoje” e fazer uma viagem legal, eles não estão seguindo os preceitos falados pela sociedade?
Enfim, esta é uma sociedade diferente da nossa. E não vai voltar a ser como era. Os nossos jovens crescerão para serem adultos diferentes dos adultos do que somos, num processo evolutivo de qualquer sociedade.
Nós precisamos nos adaptar, sim. E procurar mudar o que nos parece errado, se conseguirmos. Mas não será pela ordem e cobrança. Esta é uma linguagem que o jovem não entende e não aceita mais. Será, provavelmente, pela linguagem que eles entendem.
Ninguém disse que ser chefe era uma tarefa fácil…