Passar uma mensagem não é apenas dizer, é preciso se assegurar que ela encontre os ouvidos das pessoas de forma certa.
“Somente a língua torna possível a sociedade. A língua constitui o que mantém juntos os homens, o fundamento de todas as relações que por seu turno fundamentam a sociedade”. Saussure, 1983.
É preciso entender, antes de tudo, que a percepção da língua provém essencialmente no consenso coletivo, ou seja, a gente chama o objeto que utilizamos para sentar de cadeira, desta forma, toda vez que ouvimos essa palavra, a imagem do objeto nos vem à cabeça. Vamos imaginar numa situação hipotética que em cem anos o objeto seja chamado de outro nome. Então, a partir daí, a cadeira não existirá mais, mesmo o objeto ainda sendo utilizado. Pensando desta forma, podemos ver que a língua, forma que usamos para nos comunicar, é a ponte para a significação e ressignificação das coisas do mundo.
Podemos dividir a comunicação em dois campos. O primeiro é o campo do sentido, com o qual nomeamos tudo à nossa volta. O que nos faz chamar a cadeira de cadeira, a mesa de mesa e por aí vai. O outro, que é o mais complexo, é o universo dos sentidos dentro de vários contextos. Uma única palavra pode ter sentidos completamente diferentes em culturas ou regiões, da mesma forma que palavras distintas podem significar a mesma coisa.
O poder da comunicação vai além de saber falar, ele depende também de saber com quem se está falando. Visto que as palavras podem significar e chegar de forma diferentes para as pessoas, é fundamental saber construir seu discurso sobre o prisma de entender com quem se está falando, assim, pode-se garantir que você será ouvido.
Geralmente, quando vou dar uma palestra, procuro entender quem estará me assistindo para construir o discurso mais adequado para que as informações que quero passar cheguem a todos de forma clara e objetiva. Por exemplo, se vou falar com profissionais de Recursos Humanos, busco utilizar palavras-chaves comuns dentro da área na qual atuam, utilizando exemplos próximos ao público que está me ouvindo, assim garanto maior proximidade e uma comunicação mais íntima.
Para uma boa comunicação, ter empatia com você mesmo e com seu interlocutor é fundamental. Sentimentos efusivos ou qualquer tipo de emoção pode criar um viés no diálogo e fazer com que você seja mal interpretado, como parecer agressivo, por exemplo. É válido ressaltar que todos temos algum problema na comunicação, e ser honesto com sua própria dificuldade de se comunicar é importante para o bem-estar da conversa. Use a entonação de voz para dar ênfase nas palavras, fale animadamente. Para momentos em que a mensagem deva ser refletida, dê uma pausa mais longa. Caso tenha dúvidas se a mensagem está sendo bem compreendida, pergunte se há dúvidas, interaja. É importante ter essa percepção e a sensibilidade de saber quando está sendo ouvido.
Escutar o que o outro tem a dizer também faz parte da comunicação empática. Quando prestamos atenção ao que os outros têm para dizer, nasce um misto de respeito e admiração. Então, se pretende ser ouvido, ouça primeiro os outros, preste atenção ao que eles têm para dizer. Com o tempo, ganharão o seu respeito e darão valor às suas opiniões. Falar demasiadamente também pode ser um grande problema, portanto ouvir também é um bom exercício para se ponderar a fala.
Olhe nos olhos de quem está falando, tenha paciência, respeite opiniões adversas às suas, acolha, incentive emocionalmente, sem ter a pretensão de solucionar o problema. O que é simples para você pode não ser tão simples para o outro, demonstre interesse, seja otimista.
A conversa pode não sair como o esperado
A eficácia da comunicação está ligada com a forma que você se expressa unida com a maneira que o interlocutor interpretou o seu discurso. Ciente desse fato, o comunicador não se preocupa apenas em como se expressa, mas também, em como o outro poderá interpretá-lo. São incontáveis os fatos que podem influenciar na comunicação. Uma das pessoas podem não estar em um dia bom, e isso precisa ser levado em consideração.
Uma dica preciosa é estar sempre focado no seu objetivo de comunicação, livrando-se de qualquer sentimento que possa atrapalhar sua forma de se expressar e/ou a maneira que o outro poderá lhe interpretar. Assim, seu discurso será mais claro e objeto. Questione-se: “o que quero com este diálogo?”, “onde quero chegar com esta conversa?”, perguntas como essas podem nortear sua meta de comunicação, deixando mais claro seus objetivos de diálogo.
A preparação também é um importante item para se sentir mais seguro e “conquistar” o público ouvinte. Saber previamente o que irá falar ajuda na colocação das palavras e a raciocinar com mais coerência, sem se perder nas ideias. Colocar as ideias no papel também é um grande exercício para estruturar argumentos, organizar os pensamentos e se preparar para os imprevistos.
Acredito que pensar dessa forma pode potencializar a comunicação das pessoas, evitando correr o risco de ser prolixo e ter um grande empoderamento no momento de fala. Falar não é garantia de ser ouvido. Transpor as ideias pensando em quem está ouvindo é uma maneira segura e eficiente de se comunicar.
A comunicação vista desta forma não apenas possibilita a clareza do discurso, mas pode interferir na empatia da sua fala. Agir desta forma demonstra flexibilidade e preocupação do da sua parte para com quem está lhe ouvindo, e isso é percebido por todos e faz uma grande diferença. Quem é ouvido, é, consequentemente, lembrado.