No meu artigo para a coluna de novembro, escrevi sobre um tema que afeta a todos nós: a autossabotagem. O artigo “Por que você se sabota tanto?” repercutiu bastante e muitas pessoas me procuram até hoje, incomodadas com o quanto estão se sabotando e querendo saber mais e como podem melhorar.
Em suma, a autossabotagem é uma questão universal e afeta 100% das pessoas, fazendo com que apenas 20% delas apenas alcancem seu verdadeiro potencial. Ou seja, não é uma questão de se sabotar ou não, e sim o quanto e onde você está se sabotando.
Basicamente, como explico no artigo anterior, existem 10 formas diferentes das quais você pode se atrapalhar. Dada a grande importância e repercussão sobre este tema, resolvi escrever uma série de 10 artigos rápidos e práticos, com casos reais e formas práticas de cada um destes mecanismos e formas de agir e também como melhorar em cada um destes sabotadores. Identifique na lista de 10 itens ao final do artigo anterior, qual o sabotador que mais se assemelha ao seu comportamento, tanto pessoal quanto no trabalho.
Vamos ao terceiro deles:
3º Sabotador: O Hiper-Realizador – constantemente realizando e fazendo atividades, depende de desempenho e realização constante para ter autoconfiança e autovalidação. Sente culpa quando não está realizando, tem muita dificuldade em “desligar” e descansar a mente. Constantemente pensando no que tem que fazer e no que tem que entregar. É altamente centrado no sucesso externo, tendências workaholics e perde contato de alguma forma com necessidades emocionais e relações mais profundas.
Se você se reconheceu em algum dos pontos acima, provavelmente o hiper-realizador está agindo na sua cabeça, um tipo de autossabotagem muito comum, ainda mais no ambiente corporativo.
Meus clientes de Coaching que possuem esse tipo de sabotagem sentem ansiedade grande e praticamente constante. Não conseguem desligar e estão pensando sempre na próxima coisa a fazer. É como se a vida fosse um constante check-list a ser cumprido e concluído.
Momentos de pensamento calmo são incomuns e não importa quantas realizações e conquistas positivas já tiveram ou alcançaram. Quando se deparam com um resultado negativo ou abaixo do esperado, é como se a autoestima e autoconfiança fosse lá para baixo.
Fiz um processo de Coaching com um engenheiro de 28 anos que buscava uma transição de carreira. Em uma das sessões ele estava com a autoestima muito baixa e questionando suas habilidades e seu potencial, pois tinha tido insucesso em uma reunião com seu cliente. A sensação dele era de ser “incompetente e despreparado”. Quando olhamos para o seu histórico de reuniões, os últimos quatro meses foram todos de reuniões de sucesso. Em nove reuniões, oito foram de muito sucesso e uma não foi como esperado.
O sabotador hiper-realizador age nesta hora, fazendo sentir muita culpa, despreparo e joga sua autoestima lá para baixo. Faz esquecer de tudo o que já aconteceu e realizou e julga sua capacidade e competência em função de apenas um resultado negativo que ocorreu.
Felizmente, assim como todos os sabotadores, existem técnicas e estratégias para lidar com ele e melhorar muito seu desempenho, sua autoconfiança e diminuir, em muito, a culpa e ansiedade que você sente.
Caso Prático na Carreira
Este foi um dos meus principais sabotadores e tive que aprender a lidar e minimizar bastante o impacto dele sobre minha vida. Fazia com que eu me sentisse mal comigo mesmo e duvidasse da minha própria capacidade.
Esse sabotador faz você concentrar seu sucesso na sua imagem externa. Enquanto obtiver realizações positivas, sente-se autoconfiante e inclusive motivado a fazer mais, além do seu próprio limite físico e mental em alguns casos, para obter mais conquistas. A primeira coisa errada que acontece é suficiente para acabar com a motivação, o ânimo e a vontade de realizar.
Esse ciclo por busca de novas conquistas é constante e a sensação é de que não pode parar. O sabotador conta a mentira para você de que o objetivo da vida é unica e exclusivamente produzir resultados e alcançar realizações.
No trabalho a sensação é sempre de estar devendo, por isso precisa sempre compensar com mais dedicação e horas, já que o sabotador só aceita o trófeu de 1º lugar em tudo o que faz. Ele deixa você sobrecarregado e com a sensação de que sempre “dava para ter feito mais”.
Ciclo do Hiper-realizador
O ciclo desse sabotador, o qual me vi muitas vezes no passado é o seguinte: trabalho intenso, realização constante e intensa e pouco tempo para descansar. Em determinado momento, o stress que vem se acumulando dia a dia atinge níveis insustentáveis.
Neste momento, a vontade é de parar tudo, desistir de tudo e mudar completamente. O sentimento de frustração, de estar perdido e a falta de satisfação e realização é constante. Você para de realizar e cessa as atividades, pois atingiu seu limite.
Com o descanso da cabeça e do corpo, você consegue organizar os pensamentos depois de algumas horas ou dias e a sensação ruim passa. Você olha o tempo que perdeu e o tanto de coisa que poderia ter realizado e volta a agir com intensidade. Até ter um novo pico. E o ciclo se repete constantemente.
Mas calma, já aconteceu comigo e com muitas pessoas por conta desse sabotador que eu conheço. Listo estratégias bem práticas nas últimas sessões desse artigo para você!
Autossabotagem nos Relacionamentos
O hiper-realizador, para estar constantemente concluindo tarefas, faz você perder contato com sentimentos mais profundos, seus e das outras relações. Faz pensar que olhar para sentimentos por muito tempo podem distrair na realização de objetivos. O hiper-realizador não desliga nem aos finais de semana, nem em momentos com família e entes queridos. Sempre tem um pedaço do cérebro focado no que é preciso fazer. Afinal, a autoaceitação e bem-estar estão condicionados à realização constante.
Nos momentos com pessoas queridas ou descanso, o sentimento, algumas vezes, é de culpa, pois acredita “estar devendo”, “ter muita coisa para fazer e entregar”, “estar perdendo tempo”.
Tudo é cronometrado para perder o menor tempo possível, desde ir ao supermercado, até um trabalho a entregar. As pessoas à sua volta podem se sentir sugadas pelo turbilhão de “ter que realizar” que o hiper-realizador imprime no seu ritmo de vida.
Celebrar as conquistas!
Uma das formas mais eficazes de minimizar o impacto desse sabotador é celebrar as conquistas. Aprendi isso com minha querida amiga e mentora Dani Teixeira, que me guiou neste processo.
Cada vitória e cada conquista, por menor que seja, deve ser celebrada. No whatsapp com o grupo de família, amigos ou parceiros, pessoalmente com os entes queridos, com um período de descanso sem culpa e merecido, um jantar, um cinema, um passeio ou até uma viagem, dependendo do tamanho da sua conquista. Como for melhor para você. O único ponto é: celebrar todas as conquistas. O hiper-realizador não deixa você celebrar e já lhe impulsiona para a próxima coisa a se fazer.
Então o primeiro compromisso com você mesmo para sair deste ciclo e melhorar em muito seu senso de qualidade de vida é celebrar. Ao celebrar, você se apodera do que realizou e nutre automaticamente sua autoconfiança. De quebra, ainda se diverte e tem tempo para curtir, já o que o hiper-realizador não deixa espaço nenhum na agenda para isso.
Celebre! Eu particularmente tenho uma técnica que me ajuda muito com esse sabotador e divido com carinho com você. Defino uma pequena vitória que vou conquistar e realizar semana a semana e a atrelo a uma recompensa como símbolo de celebração assim que finalizar. Um momento que vou parar, pensar no que fiz, me apoderar disso e nutrir minha autoconfiança. Minha recompensa? Uma deliciosa taça de sorvete!! Essa abaixo é real e tirei domingo passado. Eu guardo as fotos para que nos momentos em que o sabotador ataca, eu possa me lembrar de tudo que já fiz, sem me punir.
Olhar o tanto que já caminhou
O hiper-realizador foca apenas no último resultado que alcançou e julga você por esse resultado. Não só é injusto com você mesmo, como também irracional.
Olhar para trás e perceber o quanto caminhou, o quanto andou e realizou empodera você, mostra o quanto já distanciou do ponto de partida e nutre sua autoconfiança.
O revés momentâneo e natural da vida pelo qual acabou de passar, passa a ser um revés dentre muito sucessos. E não é o fim do mundo que o hiper-realizador lhe faz acreditar ser. Um revés não significa nem eu e nem você ser um “inútil” ou “incapaz”. Olhe para trás, se apodere de suas conquistas e enxergue a pessoa incrível que você é!
Realizar não é só no profissional!
Uma outra forma de encarar as coisas que ajuda em muito a dosar o hiper-realizador é perceber que realizar não está vinculado apenas a trabalho.
O foco dele geralmente é na esfera profissional e todos os seus resultados têm que vir dali.
Toda função útil que você desempenhar é trabalho. Independentemente de qual esfera da sua vida. Desassociar realização na vida de trabalho é o melhor presente que você pode se dar. Como pode fazer isso? Num estalo de dedos. Decidindo agora mesmo desassociar.
Você cuidar da sua saúde, é trabalho. Cuidar da sua família, é trabalho. Cuidar dos seus filhos, é trabalho. Estudar e se aprimorar, é trabalho. Ir à academia, é trabalho.
Realização em qualquer área da vida é evolução, é crescimento, é conquista. O hiper-realizador vincula isso apenas a sua carreira. Não caia nessa armadilha!
Descansar, curtir e desfrutar também é trabalho! É a única forma de manter seus resultados consistentes e sustentáveis e não cair no ciclo do hiper-realizador.
Xô, Sabotador!
Qual foi a última conquista que você realmente celebrou?
Pense em uma conquista significativa que deixou passar sem celebrar e coloque na sua agenda para celebrar esta semana. Qual sua recompensa por isso? Defina agora mesmo, antes de sair dessa página!
Se for um sorvete, me convide que eu vou adorar!