“O educador não é apenas transmissor de conteúdo, mas modelo para os alunos. Isso envolve dimensões afetivas, políticas, éticas”. É assim que Eloiza da Silva Gomes de Oliveira, 64, pedagoga há 35 anos, define, orgulhosamente, a sua profissão.
Eloiza é doutora em Educação Brasileira, com mestrado em Psicologia Escolar e co-autora do livro Tecnologia na Educação: Uma Perspectiva Sócio-Interacionista, da Qualitymark. Ela falou sobre a pedagogia e a educação em entrevista exclusiva ao Mundo Carreira.
Para ela, conviver com os colegas de trabalho, com os alunos e ver o resultado de seu trabalho pedagógico estão entre as maiores alegrias da profissão. E ensinar não é tarefa fácil. A professora explica que o aluno não chega à escola “em branco”, mas traz um universo de experiências e conhecimentos.
“Por isso é muito importante que a escola e os educadores estejam sensíveis para conhecer, compreender e tomar como ponto de partida essa bagagem dos alunos”, explica, ressaltando que o pedagogo ocupa papel fundamental neste processo.
É o pedagogo quem lidará com as dificuldades e identificará as necessidades de aprendizagem dos alunos, ajudando-os de forma multidisciplinar. “O bom acompanhamento do processo de formação do aluno permite ao educador perceber quais as dificuldades de aprendizagem que estão ligadas apenas ao processo pedagógico e que podem ser resolvidas com ações educacionais, e as que necessitam de um apoio de profissionais especializados”, exemplifica, completando que esta análise demonstra a importância da avaliação, que não deve ser apenas classificatória e excludente, mas um diagnóstico para melhoria do aprendizado.
Para desenvolver este trabalho o profissional precisa estar preparado, mas qualidade de formação do docente é uma das fragilidades da educação brasileira. A mudança na grade do ensino fundamental, com a inclusão de um ano mais no ensino infantil mexeu com a estrutura dos cursos de Pedagogia, obrigaram as faculdades a reverem a grade curricular do curso, que dura 4 anos, mas isso não resolve o problema.
“As universidades não atribuem a significância adequada à formação de professores. Sinto falta de práticas menos conservadoras e mais atualizadas, incluindo o uso da mediação das tecnologias de informação e comunicação”, considera.
A falta de valorização profissional, condições de trabalho deficientes e baixo piso salarial – um pedagogo em início de carreira ganha em torno dos R$ 1,6 mil para 40 horas semanais – também figuram na lista de dificuldades enfrentadas pelos pedagogos no Brasil, segundo a experiência da doutora. Faltam, por exemplo, equipes profissionais multidisciplinares de apoio aos processos de ensino e aprendizagem.
Apesar de reconhecer que a responsabilidade pela melhoria das políticas educacionais está nas mãos do poder público, a docente ressalva que os envolvidos com educação precisam ter uma atitude mais ativa para mudar este cenário. “A categoria profissional docente em contínua formação e atualização, organizada politicamente e com atitudes proativas em relação à educação configura uma força de mudança muito importante e significativa”, ela expõe.
Àqueles que desejam seguir o mesmo caminho profissional, Eloiza finaliza com um incentivo: “Desejo que se sintam tão felizes e realizados como eu, depois de tatos anos de experiência profissional. Desejo que se orgulhem do fato de serem educadores, compreendendo o enorme valor social e político da profissão que escolheram”.
Saiba mais da profissão
O pedagogo pode atuar em escolas, empresas e hospitais, por exemplo. Este profissional trabalha em duas vertentes: a administração, voltada para supervisão do sistema de ensino; e o magistério, mais ligado à ministração de aulas e orientação pedagógica escolar.
O curso dura em média 4 anos. Na grade curricular a maioria das matérias é das áreas de humanas e ciências sociais. O aluno também aprende sobre sistema nacional de ensino, administração escolar e tecnologias de educação. O estágio é obrigatório para diversas áreas estudadas: ensino infantil, fundamental, Ensino de Jovens, supervisão e administração escolar.
Em início de carreira o salário médio está em torno dos R$ 1.6 mil.