Pedreiro, enfermeiro, médico, diarista, engenheiro, empresário, professora, policial. Esses e tantos outros Pedros e Marias constroem o Brasil. São mais de 90,6 milhões de trabalhadores brasileiros na luta todos os dias, formal ou informalmente, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística (Ibope) sobre o segundo semestre de 2013.
De fato nossa população está entre as que mais trabalham no mundo, o que não quer dizer que há mais produtividade. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) o brasileiro trabalha mais horas do que um francês, italiano, suíço, alemão, norueguês, dinamarquês ou belga, mas a sua produtividade é de cerca de um quarto da alcançada por esses países.
A culpa não é do trabalhador. A mesma organização afirma que a avaliação de produtividade leva em conta tecnologia, ambiente econômico e situação social do país, o que afeta diretamente o resultado do Brasil.
“Apesar de uma jornada formalizada em 44 horas – uma das conquistas da luta trabalhista no país – alguns setores vão muito além. Se olharmos o tamanho da jornada com o volume de hora extra, certamente estamos fazendo mais de 50 horas semanais”, diz presidente da Central Única dos Trabalhadores de São Paulo (CUT /SP), Adi dos Santos Lima.
O Brasil tem a 7ª maior economia do mundo e a taxa de desemprego por aqui está em 5% segundo dados de outra pesquisa do Ibope, de março de 2014. Apesar do aumento de cerca de 27% na formalização do trabalho nacional, entre 2002 e 2010, as diferenças salariais são muito grandes e a divisão de renda ainda está longe de ser ideal.
Mais de 40% dos trabalhadores recebem um salário mínimo de R$ 724,00 por mês ou menos. Em 2012, segundo última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), 43,1% das famílias (27 milhões de domicílios) tinham uma renda média mensal per capita inferior a um salário mínimo.
“Atualmente os setores que mais vêm se desenvolvendo no Brasil são a construção civil e os serviços. Portanto, esses são os dois setores que mais criam vagas, embora saibamos que são setores que detêm uma mão de obra com baixa remuneração”, conta Lima.
Além do trabalho extra, a ilegalidade de muitas empresas que deixam de pagar benefícios ou suprimem direitos trabalhistas, dificultam ainda mais a vida do empregado. A segurança é uma questão de destaque. O Brasil é campeão de acidentes de trabalho, principalmente na construção civil, afirma Lima. “Os índices são alarmantes. Portanto, a CUT defende que se apliquem as leis que temos no País sobre aqueles que agridem, aqueles que colocam em risco a vida das pessoas”, opina.
O transporte público é outro problema: em metrópoles como São Paulo – uma das capitais que mais recebe migrantes em busca de uma colocação – um trabalhador pode levar até 3 horas para chegar à empresa.
“São Paulo é uma das maiores metrópoles do mundo e historicamente sempre ofereceu melhores oportunidades em relação ao emprego”, diz Lima, apontando ainda que a cidade precisa mudar muito para dar ao trabalhador condições exemplares: “O planejamento da cidade não levou em consideração a qualificação da mão de obra e a distribuição de renda. Por isso se tornou uma solução, mas também trouxe problema”.
Apesar disso, o cenário está mudando. A formalização dos empregados domésticos e dos profissionais autônomos, que tem trazido melhorias na relação de trabalho e mais facilidades de acesso aos bens e serviços, colabora para melhoria de vida do trabalhador brasileiro.
“O que nós precisamos é ter um modelo de desenvolvimento que alavanque a produção – produção da indústria, por exemplo –, porque é nela que são gerados os melhores empregos e os melhores salários”, diz Lima. Para o representante da CUT, é urgente uma mudança nas leis nacionais para melhoria das condições de vida do trabalhador.
Procurada pela redação do Mundo Carreira, a Secretaria Municipal do Trabalho de São Paulo não respondeu nossas perguntas até o fechamento desta matéria.