O surgimento de novas tecnologias como os computadores pessoais (PCs) e a internet possibilitaram o nascimento de um novo mercado mundial, conhecido hoje como e-business, que garante um leque de possibilidades para empresas e indivíduos, como o e-commerce.
Os primeiros computadores pessoais surgiram na década de 1970, enquanto isso a internet já começava a engatinhar durante a Guerra Fria (anos 1960), se popularizando apenas em 1992, depois da criação do World Wide Web, pelo cientista Tim Berners-Lee, e do protocolo HTTPS da Netscape. No Brasil, essa nova tecnologia também já era utilizada desde 1988, porém começou a tomar força nos anos 2000, quando a rede foi ampliada.
Um dos modelos de negócio 2.0 proporcionados pela criação dos PCs e pela evolução da internet é o e-commerce, que surgiu como conceito nos anos 1970, mas só se popularizou entre as décadas de 1990 e 2000. Em território brasileiro, algumas empresas como as Lojas Americanas, o Submarino e o Grupo Pão de Açúcar foram pioneiras ao utilizar o comércio online já em 1995. Atualmente, o Brasil é o oitavo país no mundo com o maior potencial no varejo online, segundo dados do Índice de E-commerce de Varejo Global criado pela A.T. Kearney, divulgado em novembro de 2013.
O crescimento do e-commerce brasileiro
Segundo estudo divulgado em julho deste ano pela Mintel, multinacional que fornece inteligência de mercado e mídia, o comércio eletrônico brasileiro obteve um crescimento de 250% nos últimos cinco anos, podendo atingir um valor de mercado de R$ 115 bilhões até 2018. Para este ano a estimativa divulgada pela E-bit é de que o e-commerce no Brasil atinja um faturamento de R$ 35 bilhões, obtendo um crescimento de 21%, inferior aos 28% atingidos em 2013.
No decorrer do ano passado, cerca de 10 milhões de brasileiros realizaram a sua primeira compra pela internet, fazendo parte dos 51,3 milhões de consumidores únicos alcançados. A estimativa para este ano, segundo relatório E-bit divulgado em julho, é de que a quantidade de novos e-consumidores chegue a 11,6 milhões e o número de compradores únicos aumente para 63 milhões.
O crescimento inferior de 2014 em relação ao ano passado pode ser justificado, caso as estimativas sejam confirmadas, pela queda de 19,3% da receita durante a Copa do Mundo de 2014, dados adquiridos no estudo realizado pela Conversion, empresa especializada em SEO. Segundo ela, entre os dias 11 de maio e 13 de julho, durante as 6 milhões de visitas à lojas virtuais brasileiras, o ticket médio (o valor obtido na divisão entre volume de venda e valor de faturamento obtido) subiu, mas o volume de acessos caiu para 13,51%, assim como a taxa de conversão (venda efetivada), de 1,26% para 1,18%.
M-Commerce
Outro nicho do e-business que está crescendo no Brasil é o mobile commerce (m-commerce), ou seja, compras realizadas via dispositivos móveis, como smartphones. Há três anos esse novo meio de compra pela internet ainda era uma novidade para os consumidores, mas de junho do ano passado para 2014 o volume de participação do m-commerce no comércio eletrônico brasileiro dobrou de 3,6% para 7%, um crescimento de 84% ao ano, chegando a um faturamento de R$ 1,13 bilhão.
O cenário atual se deve muito à facilidade de compra destes dispositivos e o maior acesso à internet através de pacotes para celulares e o Wi-Fi. Segundo a Anatel, atualmente existem 275,7 milhões de aparelhos móveis, aproximadamente dois por habitante. E é justamente por ficarem mais tempo conectados aos smartphones que os consumidores “acabam sendo impactados por mais ofertas e impulsos de compras nesse canal”, afirma Maurício Salvador, presidente da ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico).
Além da alta conectividade móvel, as lojas virtuais estão se adaptando rápido a esta nova plataforma de venda online, mas ainda precisam melhorar vários pontos, como bloqueios de usabilidade presentes nos formulários incompatíveis, botões, banners e linguagem Flash, cita Salvador.
Segundo o E-bit, a previsão é de que até dezembro deste ano o m-commerce conquiste uma participação de 10% de todas as vendas online.
Social Commerce
Com a popularização de diversas mídias sociais foi possível notar o grande potencial para se fazer novos negócios na web. Muito além do que uma plataforma de comunicação que aproxima as pessoas de seus amigos, ela também é utilizada para branding, publicação de anúncios e vendas online.
O princípio básico do Social Commerce é utilizar essa relação de amizade e proximidade entre as pessoas nas redes sociais para realizar o famoso boca a boca. Um exemplo de sucesso desta nova tendência de e-business é o Magazine Luiza e Você, em que o usuário cria a sua loja dentro da plataforma do Facebook com os produtos que mais lhe interessarem, recebendo comissão em cada venda realizada para um de seus amigos da rede, que confiam na indicação do “vendedor” pela sua relação de amizade e proximidade.
Para o presidente da ABComm, “as redes sociais são um grande gerador de tráfego para o e-commerce”. Em 2010, por exemplo, cerca de 2% das visitas às lojas virtuais tinha origem nas plataformas sociais; quatro anos depois esse número subiu para 12%. Mas, segundo Salvador, as taxas de conversão desse tráfego ainda são muito menores do que o das visitas feitas diretamente no site ou através de e-mail marketing.
Porém, apesar deste nicho ainda ter muito a crescer no Brasil já que, segundo o Índice de E-Commerce de Varejo Global, a força das redes sociais no país é vista como uma das principais vantagens nesse mercado, Salvador acredita que vender dentro das redes sociais não seja o caminho mais favorável, mas sim “utilizar as redes sociais para atrair os consumidores pra dentro da loja ou como ferramenta de relacionamento e atendimento ao cliente”.
O perfil dos e-consumidores brasileiros
Segundo o relatório E-bit de julho, esse modelo de negócio na internet atinge principalmente as classes A e B, que representam 48% das pessoas entrevistadas, seguida pela C e D, que chega a 45%.
Já de acordo com uma pesquisa realizada pelo IBOPE E-Commerce e divulgada em outubro do ano passado, foi possível notar que apesar da mobilidade dos smartphones e tablets e o acesso maior à internet, 98% das pessoas ainda preferem fazer pesquisas de produtos e serviços no varejo online pelo computador.
O novo consumidor do varejo online
De acordo com um levantamento da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), dentre os novos compradores que a internet vai ganhar em 2014, dois milhões têm mais de 50 anos de idade, o que representa cerca de 20%, quase a mesma parcela de pessoas entre 14 e 24 anos que é de aproximadamente 21%. Apesar de esse novo público ser praticamente igual ao de jovens, são eles que mais gastam no comércio eletrônico, em média R$ 350,00 a cada compra realizada. Os principais itens comprados são medicamentos, cosméticos, alimentos e roupas.
Segundo o presidente da ABComm, esse cenário mudou devido a dois fatores importantes: “o primeiro é que a própria pirâmide etária da população brasileira está envelhecendo. E o segundo fator é que o público mais velho finalmente está confiando na internet para realizar transações comerciais”. Além disso, Salvador aponta que atualmente não existe mais aquela barreira tecnológica, já que os sistemas operacionais são mais simples, como um tablet, que necessita apenas do toque na tela para interagir com os sites.
Por que o consumidor brasileiro ainda tem receio do comércio eletrônico?
Apesar de o varejo online crescer a cada ano que passa no Brasil e conquistar novos tipos de consumidores, a aderência do brasileiro a este tipo de mercado ainda é baixa. Segundo a consultoria de varejo GS&MD – Gouvêa de Souza, 33% dos internautas brasileiros pesquisados (2200) realizaram a sua primeira compra pela internet há apenas um ano, além de 13% deles nunca terem efetuado uma compra no e-commerce. Outra pesquisa, realizada pela Mintel, afirma que 67% dos consumidores brasileiros não compraram nenhum produto nos últimos 12 meses e somente 9% adquiriam pelo menos um item neste mesmo período.
Ainda segundo o estudo da Mintel, 30% das pessoas pensam duas vezes antes de fazer uma compra no varejo online porque estão preocupadas com as possíveis fraudes; 22% tem medo dos produtos vendidos não serem originais e 19% acreditam que a entrega vai demorar muito. Outros pontos negativos apontados pela pesquisa do IBOPE E-Commerce são a impossibilidade de ver e/ou experimentar os produtos (84%); medo do não recebimento da compra (56%); e falta de opção de agendamento da entrega (54%).
Outra grande insatisfação dos consumidores apontada pelo relatório E-Bit (Dez-Jan 2014) é a dificuldade de se fazer uma devolução ou troca no varejo online. Cerca de 47% dos entrevistados já deixaram de efetuar a compra na internet ou compraram menos por conta deste problema. Já quando perguntadas sobre o mesmo processo realizado nas lojas físicas, 64% concordam que é bem mais fácil fazer a troca ou devolução de produtos.
Além disso, 84% gostariam que houvesse a possibilidade de fazer a troca ou devolução tanto no ambiente online, quanto na loja física. Uma solução viável para atender a esse desejo dos consumidores brasileiros poderia ser a aplicação do conceito de Omni-Channel no País, ou seja, a disponibilização de vários canais (web, lojas físicas, celulares e outros) de uma determinada marca ou loja para atender o e-consumidor onde ele estiver. Segundo o E-bit, o varejista que não compreender essa necessidade do consumidor vai deixar vender aproximadamente R$ 2,5 bilhões somente em 2014.
Mas o presidente da ABComm chama a atenção para os problemas enfrentados pelos lojistas, principalmente na área fiscal. “Se um consumidor da Bahia comprou em uma loja virtual que está em São Paulo e a Nota Fiscal foi emitida neste estado, como ele faz pra trocar o produto em uma loja da Bahia?”, exemplifica Salvador. Outra barreira para a consolidação do Omnichannel é o mau atendimento por parte dos vendedores que não receberiam comissão para gerar vendas no canal online da loja.
Apesar dos problemas enfrentados pelo varejo online no Brasil, 93% dos entrevistados na pesquisa do IBOPE E-commerce optam pelas compras via internet por conta da comodidade que o serviço oferece; para 85%, na rede é possível encontrar produtos e serviços com melhores preços; a variedade de itens para escolher também foi um dos pontos positivos citados por 66% das pessoas.
*Artigo enviado pela jornalista, Joice Viana, para o Mundo Carreira.