Em palestra sobre empreendedorismo social no começo de maio, em São Paulo, o economista Muhammad Yunus falou sobre sua trajetória e deu muitos conselhos. Um deles era para que os jovens saiam de sua zona de conforto e comecem a empreender.
Idealizador do Grameen Bank, o “banco dos pobres”, Muhammad Yunus foi laureado com o Nobel da Paz em 2006. Seu projeto levou o conceito de microcrédito até comunidades miseráveis ao redor do planeta, que, de outra forma, seriam incapazes de ter acesso ao crédito ou outros serviços financeiros. “Para criar a base sólida de um mundo promissor temos que apagar as sequelas do que foi feito de errado até aqui”, acredita o economista.
Tudo começou quando Yunus seguia a carreira de professor universitário em Bangladesh, seu país de origem, e decidiu conhecer os vilarejos que cercavam o campus, onde possuía uma boa estrutura. Lá, ele se deparou com a devastação e pobreza que tomavam conta do local.
Vendo as consequências da ação de agiotas na vida de inúmeras famílias que não tinham condições de pagar os empréstimos, em 1976, Yunus decidiu ele mesmo emprestar esse dinheiro. O primeiro socorro financeiro foi no valor de US$27.
Quando começou a ficar sem recursos, o economista foi até a agência bancária da universidade e o gerente recusou o empréstimo alegando que aquelas pessoas não davam garantia de que pagariam o débito.
Buscando outra alternativa, Yunus virou banqueiro em 1983 e continuou a oferecer oportunidades para as pessoas excluídas do sistema financeiro. “Já provamos que microfinanciamento funciona em qualquer sociedade. É bom lembrar que metade da população mundial não tem conta em banco”.
O interessante é que, apesar da falta de garantia ou documentos assinados, 99% dos empréstimos foram reembolsados até agora.
Percebendo outros problemas que afetavam as comunidades, ele também criou o banco de sementes, onde cada uma era vendida a US$0,1. O objetivo deste projeto era diminuir a deficiência de vitamina A nas crianças, que causava a chamada cegueira noturna, por meio do acesso a verduras e legumes.
Contrariando a teoria econômica clássica, Muhammad Yunus ressalta: “Meu papel era resolver um problema social, não gerar lucro. Então pensei: ‘Vou fazer entrar nos livros que há outro modelo de negócios, os sociais’.”
O economista prega o conceito de “selfless”, um pensamento mais humanizado e menos individualista ao mundo dos negócios, onde haja mais equilíbrio nas ordens sociais. Para disseminar essa ideia, durante sua visita ao Brasil, ele lançou a Rede Yunus de Universidade, cujo objetivo é reunir instituições que desejem investir em negócios sociais.
Ele defende que todos devem sair de suas zonas de conforto e buscar soluções para a miséria e também criar oportunidades de trabalho, além de incentivar os jovens universitários a serem criativos e, consequentemente, empreendedores sociais, pois são eles que vão promover as mudanças futuras. “Não chore por estar desempregado. Crie seu próprio mundo. Assim chegaremos a zero de desemprego.”
Segundo Yunus, o negócio social é agora um movimento global. Ao aproveitar a energia dos negócios convencionais para resolver os problemas humanos, o empreendedorismo social cria empresas autossustentáveis e viáveis financeiramente, que geram crescimento econômico, mesmo que elas produzam bens e serviços que tornam o mundo um lugar melhor.
E não para por aí, ele ainda tem três metas muito ambiciosas até 2030: zerar a pobreza, o desemprego e a emissão de dióxido de carbono.