Quem nunca parou para pensar quanto de dinheiro é pago por minuto trabalhado dentro da empresa? Se você ainda não teve essa curiosidade, estudos alertam que é melhor deixar para lá. Isso porque pensar que tempo é sinônimo de dinheiro pode aumentar e muito as taxas do hormônio cortisol, responsável pelo estresse.
De acordo com o professor Jeffrey Pfeffer da Anderson School of Management da UCLA, e Dana R. Carney, da Haas School of Business na Universidade da Califórnia, em Berkeley, quando a pessoa tem conhecimento desse valor, e leva a frase “Tempo é dinheiro” a ferro e fogo, passa a achar que tudo que não está relacionado a trabalho é perda de tempo, o que faz as pessoas trabalharem sem parar, comprometendo a saúde.
O estudo começou quando Jeffrey Pfeffer, que na época lecionava na Stanford Graduate School of Business, notou em sua folha de pagamento uma taxa horária. Ao questionar sobre ela, foi informado que, para chegar ao valor, seu salário anual foi dividido por semanas e horas, o que o fez lembrar na célebre frase “Tempo é dinheiro”.
Dez anos depois decidiu investigar de que forma a avaliação econômica do tempo afetava fisiologicamente os trabalhadores. Com a ajuda de Carney, Pfeffer, recrutou 104 pessoas e pagaram a elas US $ 57,50 por duas horas de trabalho numa empresa fictícia. As pessoas foram divididas em dois grupos: um deles foi instruído a calcular quanto ganharia por minuto, enquanto o outro apenas trabalhou sem ter conhecimento dessa avaliação.
Números que comprometem a felicidade
Para verificar o impacto fisiológico e psicológico da consciência do valor por minuto, os pesquisadores mediram o nível de cortisol salivar de cada sujeito – um indicador fisiológico do estresse – no início e no final do período das duas horas de trabalho.
De acordo com os resultados, os níveis de cortisol foram quase 25% mais elevados no grupo que sabia da avaliação econômica do tempo. Inclusive esses trabalhadores demonstraram menos prazer durante as pausas estabelecidas para descansar ou ouvir música.
“O cortisol está ligado a todos os tipos de resultados físicos ruins e um aumento de quase 25% é uma séria consequência para a saúde”, disse Pfeffer. “As pessoas estão continuamente calculando o valor econômico de seu tempo. E toda a pesquisa mostra que quando as pessoas estão pensando que tempo é dinheiro, não estão curtindo suas vidas. Elas ficam impacientes, não gostam de música ou pores do sol, o que definitivamente não é um caminho para a felicidade”, completou.
Pesquisa serve de alerta para as empresas
Na opinião de Jeffrey Pfeffer, os empregadores precisam se preocupar com os níveis de estresse de seus trabalhadores por três razões:
- Os custos de cuidados de saúde são um fardo significativo para a sociedade e os empregadores.
- A saúde dos funcionários afeta a produtividade.
- O estado de saúde das pessoas é um indicador confiável de quão bem um sistema social está funcionando.
O professor pensa que muitas empresas, particularmente as grandes, comemoram o quanto de carbono e de embalagens estão economizando, mas não olham com o mesmo zelo para o ambiente físico, que também é importante.
“Os empregadores devem buscar maneiras de mitigar a mentalidade do tempo-dinheiro, avançando na direção dos salários anuais, em vez de escalas salariais por hora. Nós vivemos em um mundo completamente superestimado, e isso não é muito saudável”, alerta.
Pesquisa foi inspirada em estudo de 2001
Os pesquisadores Pfeffer e Carney foram inspirados por outros estudos relacionados ao tema, sendo um deles de 2001, assinado por M. Cathleen Kaveny, do Boston College. Ela estudou os motivos pelos quais os advogados muitas vezes não estão satisfeitos com suas carreiras e, às vezes, a abandonam, sendo que possuem altos rendimentos e prestígio profissional.
Cathleen concluiu que os advogados, cujo tempo é contabilizado em minutos faturáveis, são dependentes do relógio. Quando não estão trabalhando, pensam sobre a quantidade de renda que estão renunciando ao jantarem com amigos ou assistirem a um treino de futebol dos filhos.