Saber falar um segundo idioma é, sim, um diferencial no currículo. Mas de nada adianta ser fluente em inglês, espanhol ou outra língua, se o candidato não mostrar, antes de tudo, pleno domínio da Língua Portuguesa. Em diversos casos o profissional se encaixa perfeitamente na vaga apresentada, mas acaba sendo desclassificado por não ser proficiente na leitura, escrita e proficiência do português.
No Brasil, este problema tira o sono. De acordo com dados de 2014 da Avaliação Nacional da Alfabetização do MEC, 22% dos alunos de oito anos não sabiam ler adequadamente e 35% não sabiam escrever. Outro estudo conduzido pelo IPM (Instituto Paulo Montenegro) e pela ONG Ação Educativa em 2015 concluiu que apenas oito a cada grupo de cem pessoas em idade de trabalhar no Brasil são consideradas plenamente capazes de entender e se expressar por meio de letras e números.
Essa deficiência se torna uma barreira para quem procura um espaço no mercado de trabalho, uma vez que testes ortográficos geralmente integram os processos seletivos de pequenas, médias e grandes empresas. Uma pesquisa feita pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube) durante todo o ano de 2015 revelou que quatro em cada dez brasileiros são reprovados em processos de recrutamento por não dominarem a Língua Portuguesa.
Ditado mostrou deficiências dos brasileiros
O teste foi aplicado na forma de ditado, com 30 palavras do cotidiano, como “exceção”, “textura”, “artificial”, “autorizar”, “licença”, “desperdício” e “sucesso”. Era considerado reprovado quem cometesse mais de sete erros. Foram avaliados 8.208 candidatos e, no total, 3.111 candidatos (37,9%) foram eliminados.
“Os resultados mostram que as facilidades tecnológicas nem sempre apresentam, na prática, os benefícios imaginados em teoria”, avalia o coordenador de seleção do Nube, Erick Sperduti. “As pessoas escrevem e até se comunicam mais por meio dos aplicativos de mensagens. Entretanto, a cada palavra digitada, o celular vai corrigindo. Quando o jovem precisa mostrar seu conhecimento com uma caneta e um papel, ele mostra sua fragilidade e barreiras com a língua.”
As mulheres apresentaram melhor desempenho, mas não têm o que comemorar. Afinal de contas, 34,52% delas não passaram. Entre os homens, o índice foi de 41,34%. Com relação à idade, os mais jovens, com idade entre 14 e 18 anos, apresentaram o pior resultado: 60,16% de desclassificados. Os números também são alarmantes entre pessoas com outras fixas etárias: 19 e 25 anos (37,27%), 26 a 30 anos (40,61%) e acima de 30 anos (39,53%).
Avaliação por cursos
Os alunos mais reprovados foram dos cursos de Design (73,50%), Sistemas de Informação e Computação (53%), Publicidade (46,60%), Administração (38,20%) e Jornalismo (34,30). Com maior aprovação estão os cursos de Turismo (96,70%), Economia (82,93%), Direito (82,60%), Psicologia (76,70%) e Engenharia (73,50%).
Entre os aprovados, na categoria “Superior Tecnólogo” ganharam destaque os cursos de Eventos (89,47%), Gestão Comercial (84,38%) e Gestão Empresarial (75%). Já no segmento do nível “Médico Técnico”, 73,91% dos estudantes da área de Logística obtiveram êxito na fase dos ditados.
“Surpreende o fato de os jovens da graduação ainda registrarem erros graves na escrita. Nessa primeira etapa de seleção, muitos são excluídos por terem pouca intimidade com as palavras”, lamenta Erick Sperduti. E completa: “É comum alunos apresentarem melhor desempenho no ‘badalado’ segundo idioma e pecarem ao escrever palavras do dia a dia.”
O especialista finaliza com uma recomendação: “A prática da leitura e, principalmente, o exercício da escrita são boas estratégias para aprimorar a linguagem e não perder boas oportunidades na carreira.”