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Os desafios do mercado de arquitetura e design de interiores

O profissional formado em arquitetura e urbanismo pode realizar projetos em diferentes áreas do campo da construção civil, da comunicação visual e das artes. Muito do seu trabalho, em certo ponto, aproxima-se com o trabalho de profissionais de outras áreas. Alguns cargos disputados por engenheiros, designers e decoradores podem ser ocupados também por arquitetos. Seu estudo técnico e prático lhe permite o conhecimento e a percepção necessários para trabalhar com os espaços exteriores, interiores e seus objetos, até os pequenos detalhes.

Para a elaboração de propostas na área de interiores são três os tipos de profissionais que atuam: os decoradores, os designers e os arquitetos. Muitas pessoas pensam que os resultados dos seus trabalhos são o mesmo, mas não é verdade. A abrangência, a complexidade e a finalidade podem ser diferentes. Por exemplo, o decorador trabalha com as peças prontas oferecidas pelas lojas para propor a decoração de um ambiente. O designer já trabalha com as medidas e as formas dos objetos visando a sua produção. O arquiteto manipula todo o espaço, analisando estilos, funções, necessidades, materiais, dimensões, proporções e mais. Dos três, ele é o único que pode prever alterações estruturais em uma edificação.

Nos últimos anos, o comércio intensificou suas vendas de móveis planejados. Também passou a oferecer mais peças personalizadas, feitas sob medida. Para melhorar este serviço, perceberam que seria necessário apresentar exemplos de ideias com desenhos devidamente dimensionados, com plantas baixas, elevações e maquetes eletrônicas. Não são todos os profissionais que possuem qualificação para realizar o serviço. Exige-se a capacidade de projetar espaços internos, de ler, interpretar e produzir desenhos em duas e três dimensões para esclarecer como seria o projeto se fosse colocado em prática. Além de projetar, ele também precisa convencer o cliente a adquirir aquele produto da loja ou da indústria que o produz, que costuma ser o serviço realizado por vendedores.

Depositphotos Quem procura o serviço de arquitetos e designers quer uma opinião qualificada de um profissional com a sensibilidade de perceber todas as variáveis de um projeto.

Sendo assim, surgiram as vagas para vendedor projetista. O principal requisito para este cargo é dominar um software específico utilizado pela empresa, como o Promob ou o SketchUp. Na maioria das vezes, as lojas já recebem das fábricas arquivos eletrônicos com os módulos prontos para serem inseridos nos programas e depois agrupados, como desejados, para formar uma ou mais opções de ambientação. Para isto, não há a necessidade de o profissional com curso superior e experiência prática anterior. Depois de algum estudo e treino básico, que pode ser fornecido pela própria empresa contratante, ele já está apto a trabalhar.

Muitos clientes chegam às lojas sem ideias. Com o acesso mais fácil à internet e às revistas sobre arquitetura e decoração de interiores, a maioria sabe o que gostaria de ter, mas não consegue visualizar corretamente o que é possível. Atualmente, as pessoas, quando entram em uma loja de móveis, não querem apenas um orçamento, mas também uma opinião qualificada de um profissional que tenha a sensibilidade de perceber todas as variáveis que orientarão o projeto. Então, o mercado entendeu que não bastava a venda dos móveis e objetos decorativos, mas também de propostas de reformas, remodelações e requalificação de espaços. Isto envolve o trabalho de vendedores, mas também de muitos outros profissionais.

Algumas lojas contratam ou fazem parcerias com especialistas para planejar e executar estes projetos do início ao fim. Na equipe incluem-se arquitetos, montadores, eletricistas, gesseiros e outros. A principal vantagem para os clientes é que não precisam se envolver tanto com as partes chatas, como o acompanhamento da obra. Os projetos são oferecidos de graça, sendo cobrado apenas os materiais e a execução.

Infelizmente, para decoradores, designers e arquitetos, esta nova opção das lojas de móveis, que oferecem o serviço de vendedores projetistas, fez com que os seus serviços se desvalorizassem no mercado. Muitas pessoas não veem mais o sentido de contratá-los por fora. Os profissionais que querem trabalhar na área, como autônomos, precisam cobrar valores bem reduzidos para não perderem clientes. Já para aqueles que querem um salário fixo, existem vagas apenas na área de vendas. Isto quer dizer que eles não serão remunerados como profissionais especializados e até mesmo graduados, mas como vendedores. É um total desrespeito ao conhecimento adquirido por anos de estudo e vivência na área.

Flickr Hoje, para a elaboração de propostas na área de interiores, atuam três tipos de profissionais: os decoradores, os designers e os arquitetos.

É difícil apontar culpados. Sabemos que os conselhos vêm fazendo campanhas para que os profissionais entendam como cobrar adequadamente pelos seus trabalhos, sem haver abusos ou desvalorizações. Mas os profissionais precisam também ajudar a educar a população, mostrando o verdadeiro significado do seu trabalho e todas as vantagens de se escolher um especialista. É difícil para alguns serem convencidos de que profissionais sem vínculo com lojas tendem a seguir os seus conhecimentos, levando em consideração o que aprenderam, o que tem de melhor no mercado e aquilo que o cliente realmente deseja. Já nas lojas de móveis eles te orientarão a escolher alternativas que melhor beneficiem a empresa, mesmo que a qualidade final seja ruim para o cliente.

São muitas as ideias que um vendedor projetista pode apresentar com a ajuda dos programas de computador. As imagens bem definidas encantam os clientes. Porém, quase todas vezes elas prezam apenas pelo valor monetário, que é um dos muitos itens que precisamos levar em consideração na hora de elaborar um projeto. Um arquiteto, por exemplo, pensaria no bem-estar das pessoas, nos seus desejos e necessidades, na funcionalidade e otimização do espaço, no estilo arquitetônico que iria seguir, nas referências visuais, no avanço da tecnologia, nas intempéries, na manutenção e muito mais.

Muitos podem ser treinados para vender, mas poucos possuem o dom aprimorado de perceber o espaço e enxergar ideias criativas para melhorá-lo. Os projetos desenvolvidos em lojas de móveis podem ser bonitos, mas parecem ser sempre variações de um mesmo padrão, que se repete, desvalorizando a personalidade única de cada família.

Portanto, trabalhar na área de planejamento de interiores, para quem gosta, é muito divertido. Porém, é também difícil e frustrante. Na maioria das vezes se trabalhará muito e se ganhará pouco. A satisfação virá com o encontro de soluções, a finalização de ideias e os elogios dos clientes pelo trabalho bem feito. Mesmo que não haja muita valorização de mercado, é um serviço ainda requisitado e que traz benefícios para a sociedade. Saber que o mundo ao nosso redor ficou mais belo por uma ideia nossa é gratificante. Precisamos encontrar e lutar pelo nosso lugar no mercado trabalho. Há espaço para todos. Basta que haja seriedade, coerência e respeito de quem contrata ou é contratado.

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